segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Volta às aulas: um breve histórico

Para quem está começando mais um período de aulas, parece que a escola sempre esteve por ali, aguardando o retorno de milhões de estudantes e professores, todos os anos. Mas não é bem assim. O modelo escolar que conhecemos é de certa forma recente e nem sempre existiu a oportunidade de freqüentar um ambiente que estimule o desenvolvimento do ser humano.

Nas sociedades mais antigas, formadas por nossos primeiros antepassados, o processo educativo iniciava no interior da família, passando depois a ser complementado por atividades realizadas com o resto da comunidade, como caçar, plantar, construir etc. Apenas as atividades mais específicas, como as religiosas e as artísticas, demandavam um aprendizado distinto.

À medida que as sociedades se tornaram mais complexas, novas tarefas especializadas surgiram e, com isso, novos sistemas de aprendizagem. A educação também começou a ser usada para cristalizar a divisão de classes sociais que havia se estabelecido. Assim, os conhecimentos acumulados em gerações anteriores somente eram transmitidos a uma minoria da classe privilegiada. As grandes civilizações do Oriente Médio, do Egito, da Mesopotâmia e da América pré-colombiana utilizavam esse sistema. A invenção da escrita reforçou essa diferença.

O educador Sócrates
A grande revolução da educação iniciou na Grécia, no século 5 a.C., com Sócrates. Este filósofo é até hoje um modelo de educador e o sistema educativo liberal que surgiu a partir dele coincidiu com um desenvolvimento maior do pensamento e das artes. Nessa modalidade, ainda era privilegiada uma minoria, mas o pensamento crítico era individual, distanciando-se da concepção de castas fechadas, que preconizavam o saber como algo secreto.

 O cristianismo, com o início de sua expansão, propôs idéias educativas que buscavam moldar as pessoas segundo a visão cristã. Mas logo o sistema político, econômico e cultural que havia unificado o Ocidente ruiu, com a queda de Roma, dando início à Idade Média. Os mecanismos de transmissão do conhecimento foram interrompidos e a intelectualidade desorganizou-se. As ordens monásticas da Igreja conseguiram preservar a cultura da Antigüidade apenas de forma parcial, com muitas obras desaparecidas. Isso representou um grande retrocesso do pensamento mundial.

Novamente a educação voltou à clandestinidade, pois os alunos das poucas escolas existentes em mosteiros e sedes episcopais eram formados para serem sacerdotes ou funcionários imperiais. A classe guerreira e nobre considerava a cultura como algo inútil e isso fez com que os letrados e cultos fossem uma classe fechada.

As universidades

A partir do século 11, a expansão das universidades mudou as condições de ensino radicalmente. Aos poucos, o saber de Aristóteles e Platão, assim como de outros gregos, voltou à tona, impulsionando a cultura européia e o pensamento crítico, que se desenvolveu até assumir sua forma moderna no Renascimento. A educação retomou os antigos ideais clássicos que defendiam a conjunção harmoniosa do homem com a natureza e idéias inovadoras eram cada vez mais estimuladas. Mas esse período otimista logo findou, com as disputas ideológicas que surgiram com a Reforma Protestante e a Contra-Reforma católica. As universidades caíram em decadência e o pensamento só se desenvolveu nos poucos lugares em que o conflito religioso não foi tão duro.

Os efeitos das disputas só foram percebidos mais tarde. Segundo o reformador Martinho Lutero, era preciso popularizar a leitura da Bíblia e para isso realizou uma tradução da mesma para o alemão. Esse movimento, aliado ao surgimento da imprensa, favoreceu a alfabetização de amplos setores da população. Já os católicos, providenciaram novas instituições de educação, para formar as crianças desde cedo na fé. Eram os colégios, com métodos educacionais de grande refinamento psicológico. Por outro lado, a formação de sacerdotes também ganhou nova roupagem, com a criação de seminários, específicos para este fim.

A educação e a cultura, durante a Era Moderna, já não eram mais consideradas “inúteis”, pois diversos setores precisavam dispor de pessoas letradas e cultas: as construções, a navegação, os exércitos etc. Com isso houve um novo movimento de especialização de funções, porque percebeu-se impossível o domínio de todos os campos do conhecimento.

O século da educação

Em meados do século 17, as lutas religiosas tiveram fim e o conhecimento começou a se constituir fora da influência das igrejas. O século 18, chamado de o século da educação, foi marcado por um espírito otimista, baseado na idéia de que o progresso da razão e da ciência poderia levar a humanidade a uma espécie de paraíso terrestre. Fato marcante desse período foi a criação da enciclopédia francesa: um sistema educativo que buscava reunir todo o conhecimento disponível.

O Iluminismo foi um grande movimento ideológico e cultural do qual participaram as maiores inteligências da época, de Jean-Jacques Rousseau a Immanuel Kant. Seus participantes tinham consciência da necessidade de expandir a educação a todos os níveis da sociedade. Esse movimento ganhou corpo na mesma época em que o mundo sofria diversas revoluções: industrial, econômica, científica, cultural e política. Rousseau elaborou a tese de que o ser humano é bom por natureza, mas precisa ser direcionado para que seus dons naturais se desenvolvam. Essa idéia continua a exercer influência na pedagogia de hoje.

A necessidade de qualificar a mão-de-obra e a pressão da classe trabalhadora levou os governos burgueses a ampliar a oferta de educação a mais pessoas. No final do século 19, a maior parte dos países industrializados já tinha conseguido atrair para a escola quase toda a população infantil, reduzindo drasticamente as taxas de analfabetismo.

Escola para todos

Durante o século 20, a educação primária foi estendida a grande parcela da população mundial. Os países latino-americanos e as ex-colônias fizeram esforços para recuperar séculos de estagnação na área educacional, buscando diminuir a desvantagem em relação às nações industrializadas. A pobreza e a explosão demográfica dificultaram o processo de alfabetização e, chegando ao final do milênio, muitos países ainda estavam longe de cumprir com os objetivos de estender a educação a todos.

Por causa da democratização do ensino fundamental, produziu-se uma demanda maior pelo ensino médio e superior, criando nova dificuldade: as universidades não comportam a quantidade de alunos que saem das escolas. Os trabalhos de teóricos da educação continuaram e o estudo da pedagogia infantil e das relações escolares foram aprofundados. Diversas correntes surgiram, mas a tendência geral foi de limitação do autoritarismo e do aumento de liberdade de ação e pensamento das crianças. As atividades físicas, a informática, os cuidados com a natureza, o estímulo às artes e outros conteúdos menos tradicionais foram valorizados, visando à formação das crianças para a sociedade contemporânea.

Ainda há muito o que se conquistar, em matéria de educação, especialmente em países cujas riquezas estão distribuídas de maneira extremamente desigual, como o Brasil. Queremos acreditar que o futuro nos reserva uma grande melhoria no sistema educacional, para que cada criança e jovem de nosso mundo possa chegar ao início do ano ansioso pelo que vai viver e aprender na escola.

Fonte: Mundo Jovem

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