quinta-feira, 26 de setembro de 2013

"Convivência familiar: divisão de tarefas e responsabilidades"



Há que se cuidar da vida, esse dom maior que nos foi dado de presente. Há que se cuidar da educação humana, cuidar do desejo e do sentido de viver.  Cuidar do sentido de viver é cuidar das relações entre o casal, e da educação dos filhos - broto do amor. E esse broto nasce no ambiente familiar.
Porém, o que cada vez mais constatamos é que, lamentavelmente, a família está perdendo a sua identidade. Precisamos resgatar os nossos papéis, precisamos desfazer o equívoco e restabelecer a função da família, a função dos pais.  

Cada vez mais, na sociedade contemporânea, o papel da família (pais, mães, e outros familiares responsáveis pela criação dos filhos) deverá ser essencialmente focado para educar a criança e o jovem para a autonomia. Isso implica, fundamentalmente, em dar a eles responsabilidades, deixando, pouco a pouco, de fazer por eles o que já conseguem fazer sozinhos. Os pais devem buscar compreender que os filhos necessitam tomar decisões. Defendemos quatro posturas que devem ser vivenciadas nas experiências familiares, para que as crianças e os jovens possam ao se tornarem adultas, pessoas integradas na sociedade, que saibam vivenciar o sentido de comunidade, em oposição ao do individualismo humano. Essas posturas deveriam, a nosso ver, ser implantadas em casa com todos da família; não importa a idade dos filhos, dois, quatro ou quatorze anos, todos participam. 

Þ    Cooperação: Ela começa nas pequenas tarefas e atitudes do cotidiano. Seu objetivo maior é o benefício mútuo, levando os envolvidos a uma respeitosa consideração, um cuidado constante. Quando os filhos internalizam, através de ações e exemplos, que todos na família devem cuidar de tudo, cada um com um papel, as funções são mais bem distribuídas, e a mãe não precisa mais correr de um lado para outro, para atender aos ‘folgados’ da casa. Cooperar, no ambiente familiar, é cada um ter uma função, para aliviar as tarefas, que são de todos.
Þ    Responsabilidade: É desenvolver o sentido de proteção a si mesmo e de manter o equilíbrio, não só da família, mas do ambiente na qual a família está inserida; é o que chamamos de atmosfera emocional da casa. Quando todos conseguem desenvolvê-la, não há as cobranças chatas e cansativas (“você já arrumou seu quarto?”; “você já guardou seus brinquedos?”; “já estudou e fez as lições da escola?”). O sentido de responsabilidade começa no campo individual, mas sua repercussão assegura o benefício de todos.
Þ    Conflito: Ele começa quando falta o reconhecimento da identidade pessoal (Quem sou eu? Qual é o meu papel e a importância dele nesse grupo familiar?) e, consequentemente, da do outro. Cada integrante da família confunde seu papel, porque não reconhece sua identidade e, portanto, não consegue colocar-se no lugar do outro, instalando-se desse modo um mal estar difícil de ser harmonizado. No conflito mal vivenciado, ninguém escuta ninguém; é aquela visão de que a minha vontade é que tem de prevalecer, eu tenho razão, por isso você deve me obedecer.
 Não temos como pretensão afirmar que esses aspectos, por si só, garantam a legitimidade e a melhoria das relações familiares. Porém, eles supõem a consecução de metas a serem alcançadas em momentos diários. Remete-nos à possibilidade de uma maior compreensão dos problemas, maior sensibilidade para a busca de soluções, maior inclinação para atitudes mais comprometidas de maneira integral e proativa. Acreditamos que isso já é um bom sinal, ou melhor, um ótimo sinal!


Þ    Coexistência: Associamos este aspecto à tolerância, pois tolerar é coexistir, é existir com o outro, é reconhecer o outro, a sua individualidade e diversidade. Nesse sentido, eliminam-se as máscaras (eu não preciso representar um papel, eu demonstro quem verdadeiramente eu sou, pois haverá tolerância do outro diante de mim), diluem-se as tensões, eliminam-se os preconceitos. Quando os filhos aprendem, por exemplo, que não há necessidade de mentir para os pais, mesmo sabendo que eles não concordarão com seus pontos de vista. 

 É muito difícil mudar uma estrutura familiar que há anos desempenha um determinado papel, às vezes bem diferente desse que aqui propomos. De fato, são muito poucos aqueles que são capazes de mudar a maneira de ver, entender, lidar e agir com as pessoas e coisas. Mudar implica longo processo de demolição/reconstrução. Não se trata apenas de escutar (ou ler) certas regras de conduta, mas, sim de desembaraçar-se de outras tantas acumuladas ao longo dos anos.

Mas acreditamos ser possível para quem realmente almeja concretizar sonhos de uma vida melhor, sonhos de relações familiares mais duradouras, mais dignas, relações permeadas pela luz, e não pela sombra. 

Sugestão de Bibliografia:
  • MIGLIORI, Regina de Fátima. Ética, valores humanos e transformação. São Paulo: Ed. Fundação Peirópolis, 1998.
  • TIBA, Içami. Quem Ama Educa. 2ª. ed. São Paulo: Editora Gente, 2002.




RENATA GAZZINELLI, pedagoga, especialista em Educação, pós-graduada em Educação Ambiental e Sustentabilidade, MBA em Gestão de Instituições Educacionais, Gerente de Relacionamento da REDE PITÁGORAS.
  

Renata será a palestrante da próxima Escola de Pais CNSD que acontecerá nesta sexta-feira (27), às 19h30 no Centro de Convenções.

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