quarta-feira, 25 de setembro de 2013

"Semeando esperanças para concordar com a vida"



A vida é muito curta para ser pequena
Benjamin Disraeli


Quando refletimos sobre esse tema e essa frase, vêm-nos à mente o significado da palavra concordar que, originada do latim, cum cor, quer dizer colocar o coração junto; onde e com quem estamos colocando nossos corações? Junto a quem? Junto a quê? Estamos concordando com quem? Com o quê? Paradoxalmente, se eu não estou concordando, o que faço com as minhas discordâncias? Ou melhor, para que servem as minhas discordâncias?

Esta é a primeira parte das reflexões que aqui farei, com a intenção de nutrir os leitores com sentimentos de esperança e reverência pela vida.  Vida que a cada lua cheia mostra-se em discordância com a esperança. Não por ela, mas por quem a faz. Ou por quem a cria e conduz: nós, humanos. Quando coloco o coração junto daquilo que faço, daquilo que penso ou sinto, metaforicamente estou colocando nessa trama o amor – ingrediente necessário para o conforto e manutenção dos vínculos humanos. Afinal, não nascemos humanos, nos tornamos humanos. A humanidade cresce e se faz em nós à medida que nos aquecemos nas mais diversas situações da vida; quando nos sentimos ameaçados ou quando nos sentimos amados, quando doamos ou quando recebemos. A humanidade e a humanização se fazem em nós. Humanizar é acolher a necessidade de resgate e articulação de aspectos indissociáveis: o sentimento e o conhecimento. Humanizar é tornar-se humano, adquirir novos hábitos, mais apropriados e factíveis, sob o foco da ética e da moral, distanciando-se da ignorância e da estupidez, da intolerância e da prepotência e, principalmente, da indiferença.  

A humanização está amarrada à espiritualização do ser; são inseparáveis, é a ordem do milênio. A cultura que predomina ao nosso redor caracteriza-se, ainda, por considerar as pessoas meros recursos que devem contribuir para o alcance dos objetivos de um determinado sistema. Humanização e espiritualização andam na contramão disso. Representam a assimilação de características mais amorosas e conscientes, para consigo e também para com o outro, sempre. É semear esperanças para concordar com a vida, começando por arregaçar as mangas para sensibilizar-nos para a árdua tarefa de trabalhar como operários na construção das bases de um mundo de amor. E nós, educadores, nos incluímos nesse rol de operários?

Vivemos hoje um novo tempo que deverá, indubitavelmente, conduzir a efeitos salutares à nossa coletividade humana, criando entre nós o período da atitude. O velho discurso sem prática deverá ser substituído por efetiva renovação pela educação moral. É a etapa da espiritualização individual, da depuração emocional e da busca incessante de sentido para a vida, na qual a ética do amor será eleita como meta essencial, e a educação como o passo seguro na direção de nossas finalidades.

Segundo o educador Hugo Werneck, considerado por muitos o pai da educação ambiental no Brasil, nossa crise é de valores e não de conhecimento. Valores esses que estão sendo trocados por pequenas moedas da conveniência. A lucidez da atitude exige ousadia e dinamismo, além do sacrifício (que está longe de ser sofrimento) para encetar as mudanças imperiosas no atendimento dos reclames da hora presente. Hora essa que pede o cum cor – colocar o coração junto. 

A sensação que tenho é que continuamos com os olhos vendados, mesmo fazendo nosso tour pelas ruas e avenidas da vida. E a incoerência está no risco que corremos, por nossa própria conta, em percorrermos caminhos às escuras, visto que estamos com os olhos vendados. Nosso maior inimigo, de fato, é o orgulho em suas expressões inferiores de arrogância, autoritarismo, perfeccionismo, intolerância, preconceito e vaidade, frutos infelizes que, sem dúvida, insuflam e incentivam a des-humanização, adubando as sementes do joio.

Falo aqui das sementes da esperança, do trigo e da vida. Nossa luta deve ser íntima; não é uma luta contra sistemas ou organizações, mas contra nós mesmos. Acostumamo-nos a venerar a vida em favor de vantagens pessoais. Quando formos bons, faremos boas as nossas organizações e os nossos sistemas. E a educação inclui-se nisso.  Aliás, a educação é a base e o topo disso – ela é o centro de convergência. Não podemos mais adiar esse encontro. Sob pena de perecermos antes.  O inimigo confesso está dentro de mim, e a pergunta que não cala é: o que eu tenho feito, que medidas eu tenho tomado para escapar-me da omissão de não expurgá-lo?

Determinação e coragem para fazermos a travessia. Amor que concorda; atitude que acorda. A melhor instituição será a que mais expandir as condições para o amor. O melhor ser humano será o que mais apresentar tenacidade em amar. A melhor escola será a que mais vivenciar o relacionamento entre as pessoas que ali convivem, imprimindo a seus deveres o caráter de educação e espiritualização de todos. Para que todos se vejam (e ajam) como heróis da moralidade e guardiões de princípios, semeando e exalando o hálito da esperança para concordar com a vida.


RENATA GAZZINELLI, pedagoga, especialista em Educação, pós-graduada em Educação Ambiental e Sustentabilidade, MBA em Gestão de Instituições Educacionais, Gerente de Relacionamento da REDE PITÁGORAS.
  

Renata será a palestrante da próxima Escola de Pais CNSD que acontecerá nesta sexta-feira (27), às 19h30 no Centro de Convenções.

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