sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Qualquer objeto para criança é brinquedo; tecnologia não favorece desenvolvimento

“De vez em quando não quero trocar meus brinquedos velhos. Teve um dia que eu já tinha doado todos os que eu queria, não achava o que tirar e acabei tendo que doar minha maquiagem”. Beatriz tem 8 anos e na casa dela a regra é: para cada brinquedo novo que entra, um tem que sair. A garotinha lida com tranquilidade com isso e a mãe, a relações públicas Juliana Dias, conta que desde pequena já fazia questão de transmitir à filha os conceitos de utilidade, excesso, caro e barato. Foi no aniversário de 1 ano da menina que a mãe percebeu a quantidade de objetos - entre roupas, acessórios e brinquedos - que a filha nunca usara ou usaria. “Eu fiquei muito assustada, sou uma assalariada e à medida que ela foi crescendo deixei claro que só compramos o que for útil. Temos que ir adaptando nossos argumentos junto com o crescimento deles. Hoje a Bia sabe que ela tem um limite para guardar os brinquedos. Começa a não caber no armário, separamos o que não ela não usa e doamos”, relata.

Mesmo assim, Beatriz fala como se toda a casa dela estivesse ocupada de brinquedos e livros. “Eu tenho mais ou menos uma livraria aqui em casa”, orgulha-se. Entusiasmada, diz que suas histórias preferidas são as de terror. “Você conhece ‘João, Maria e a bruxa?’ É muito legal”, recomenda ao afirmar que esse é seu livro preferido. A menina também enfatiza que tem muitas bonecas. Alice, que ela descreve como “branquinha, pequena, de cabelo pretinho, batom vermelho e que adora vestido roxo” é a sua favorita. “Mas você não enjoa de seus brinquedos?”, provoco a garotinha que me esclarece prontamente a questão:“Alice é minha filhinha, quando eu canso de brincar com ela, finjo que levei ela pra escola e brinco com outra coisa”.

A proximidade do Dia das Crianças – e o excesso de estímulos de compra que acompanha a data – convida auma reflexão sobre o consumismo na infância: e se neste ano a comemoração for diferente? E se ao invés de comprar um brinquedo novo, levar o filho ou filha à uma feira de trocas? Ou trocar o presente por um passeio divertido? Quem sabe, até, pais, mães e filhos não podem construir juntos o novo brinquedo da criança?

Depoimentos de especialistas, pais, mães e lideranças de movimentos que lutam pela regulação da publicidade infantil no Brasil mostram que apesar de ser uma tarefa difícil, muita gente está tentando fazer diferente.

Qualquer objeto é brinquedo
Doutora em educação e professora do programa de pós-graduação em Educação da PUC Minas, Magali dos Reis explica que a competição pelo brinquedo “mais legal” ou “mais caro” é uma característica ocidental e urbana. “Crianças que têm acesso a bens de consumo começam a ter esse desejo despertado entre 4 e 5 anos. Nessa fase, elas já conseguem diferenciar aqueles que são mais chamativos dos mais simples. A partir dos 6, já percebem quais brinquedos são mais tecnológicos e avançados que outros”, explica. Segundo a especialista, como as crianças se imitam muito e buscam referências entre seus pares, a vontade de ter o brinquedo igual a de um colega de escola, por exemplo, é inevitável. “Por volta dos 6 anos, elas vão se organizando em grupos que compartilham um gosto por um brinquedo específico. Criam-se uns clubinhos de meninas que colecionam barbies ou de garotos que gostam do Ben 10”, exemplifica.

Entre os mais pequenos, entre 2 e 4 anos, a principal característica é o desinteresse rápido pelos objetos. “Eles abandonam, mas retornam a ele”, afirma a educadora. O que independe da idade é a capacidade de a criança transformar qualquer objeto em brinquedo. Outra realidade é a habilidade de meninos e meninas em transformar a função e o sentido do brinquedo. “Isso nada tem a ver com a qualidade ou preço”, resume.


Fonte: Saúde Plena

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