quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Discurso aos Colegas

Nós nascemos na era do “ser”. Nós devemos “ser” algo ou o mundo vai desmoronar ao nosso redor. Devemos decidir nosso futuro sem nem entender o nosso presente, mas nem sabemos o porquê. Nós nascemos em um mundo em que esperam que sejamos muito. Muito estudiosos e muito felizes, muito focados e muito espontâneos, muito apaixonados e muito realistas, muito fortes, mas muito sensíveis. Mas a verdade é que você vai sorrir e chorar. Sentir como se o mundo estivesse todo errado e todo certo. Vai se desesperar porque toda nova etapa parece um fim e nunca um começo, mas logo o outro dia chega e você percebe que ainda há novas histórias, novos momentos. E então, você terá medo e será ousado. E mesmo assim não será o fim.

Pelo menos é o que eu gosto de pensar.

Porque se há alguma certeza, aqui entre nós, é que não há certeza alguma, e está tudo bem. Está tudo bem se alguns aqui pretendem salvar o mundo em cinco anos, mas outros não sabem nem o que estão prestes a jantar. Tudo bem. Nós temos 18, não 81. A gente se encontra, se descobre aos poucos. E como minha mãe gosta de me lembrar sempre, “Cada um tem seu tempo. E, às vezes, este tempo é mais longo.”

Por isso, cada um tem seu próprio tempo de viver como se a juventude durasse apenas um dia. Cada um tem seu próprio tempo de se apaixonar e de fazer aquelas péssimas escolhas. Cada um tem seu tempo para entrar em total desespero porque o futuro está logo aí, batendo em nossa porta, nos implorando para abrir e sair para o mundo, sem olhar para trás. Cada tem seu tempo de ter medo. E cada um tem seu próprio tempo para ser gente grande. Seu próprio tempo de fazer escolhas. E essas escolhas nunca serão iguais, e é exatamente esse fato o que torna nós, humanos, seres de extrema complexidade.

Complexos porque sentimos a necessidade de sermos tudo: ousados e cautelosos, nerds e populares, médicos e desenhistas, advogados e cantores, escritores e heróis. Nós queremos ser tudo. Queremos ser a calmaria, mas também queremos ser a tempestade. Queremos ser a guerra e a paz. Queremos tudo. Até que chega o momento em que nos dizem que não podemos e que devemos decidir o que faremos com nossas vidas por um período de tempo que talvez pareça longo demais.

Bem, eu acredito que eu tenha um conselho para esse dilema: não tenha pressa. Talvez seja um pouco tarde para dizer isso, mas é o que espero que todos aqui tenham em mente. Vocês não precisam segurar o mundo nas mãos de uma só vez. Conquiste-o aos poucos. Sinta-o. Absorva-o. Respire fundo, e quando achar que seu tempo chegou, decida. E não se sinta na obrigação de ser apenas uma coisa. Você pode salvar vidas sendo um engenheiro, pode ensinar sendo um médico, pode ser poeta sendo um advogado, pode ser jogador sendo dentista, pode viajar o mundo sendo tatuadora, e pode ser feliz, mesmo que não tenha escolhido aquilo que todo mundo esperava. Vocês podem tudo, caso tenham a coragem de simplesmente tentar.

E não sejam algo que não queiram ser, só porque lhe disseram que não havia mais tempo. E se, por ventura, tenham feito a escolha errada, não tenham medo de começar tudo de novo. Talvez, no final das contas, é isso que precisamos ser, mais que qualquer outra coisa: corajosos. É necessário ter coragem para se deixar ir, fora de todas as nossas bolhas protetoras, ao encontro do mundo real. Coragem para começar de novo, mesmo quando o velho é bastante confortável.

E não há nada mais confortável do que continuar com as mesmas pessoas com quem crescemos. Mesmo que haja dias que parecemos insuportáveis, quando não queremos mais ficar ao lado um do outro. Ainda assim é confortável, porque não é novo, e já virou rotina.

Nós fomos rotina um para os outros. Alguns por quase catorze anos, outros por bem menos. Foram a certeza de conforto para muitos aqui a cada ano que passava. E eu imagino que essa sensação de conforto em voltar para escola com o bom e velho conhecido, não tenha sido algo que só eu senti. Afinal, passamos mais tempo juntos do que com nossa própria família, e no final nos tornamos a família que cada um precisou em algum momento.

Por isso, quando escrevi esse texto estava morrendo de medo que não conseguiria fazer algo especial para todo mundo. Mas depois de vários rascunhos decidi falar o que eu acho que, no fundo, todo mundo precisa ouvir: Não tenham medo de serem extraordinários. E não aceitem ser nada menos do que isso. Sejam sempre o seu melhor. Sejam sempre sua própria âncora. E estejam sempre cientes de toda a capacidade que guardamos dentro de cada um de nós. E não desistam de seus sonhos, porque no fim, são eles que tornam a vida um pouco mais empolgante e com um pouco mais de sentido.

Para terminar, gostaria de ler algo. Um texto que apareceu em alguma de nossas aulas, alguns anos atrás. O autor é Paulo Mendes Campos e faz referência à “Alice no país das Maravilhas”:

“Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior isso acontece muitas vezes por ano.

‘Quem sou eu no mundo?’

Essa indignação perplexa é lugar comum de cada história da gente.

Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão estranhada em ti mesma como teus ossos, mais forte ficarás.

E é bobice disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres que ir a algum lugar, não te preocupes com a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar.

Se chegares sempre onde quiseres, ganhaste.”

No fim, nós somos como livros, mas não fomos concluídos ainda. Escrevemo-nos todo dia, a cada passo novo que decidimos dar. A cada momento que aceitamos viver. Aceitem ser extraordinários e o sejam. Aceitem ir além do que pensavam que fôssemos capazes. E sejam extraordinariamente felizes.



Texto escrito pela aluna da 3ª série do Ensino Médio - Luiza Aparecida Ranuzzi - para leitura na Cerimônia de Entrega de Certificados de Conclusão de Ensino Médio CNSD.

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