segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Rir pra não chorar: É hora de votar

Eleições, política, debates, horários eleitorais. Dor de cabeça e cansaço mental para alguns, preocupação para outros. Mas afinal, que país é este?

Basta pegar um livro de História qualquer para se lembrar das lutas incansáveis do povo que tempos atrás exigia aos berros o direito do voto. Ah, o belo direito de se escolher com liberdade alguém para representar, para ouvir os desejos de todas as classes. O glorioso direito de se identificar com um candidato e colaborar para que o mesmo governe a pátria amada. Sim, o histórico período das Diretas Já.

Mas eu me pergunto em que momento dessa história, se deu o começo da enorme inversão em que vivemos. Hoje, a época da eleição é castigo. Ir até a urna mais próxima é cansativo. E pior: menos tempo de novela.

Assim funciona o Brasil. Lutas e mais lutas para no fim, dar no mesmo. Não se escolher, aqui, o candidato favorito, comprometido com os princípios aspirados pela sociedade. O que se escolhe aqui, ou o que se tenta escolher, é alguém com menor número de crimes e roubos, com talvez meio crime a menos para fazer dele “menos pior” que os demais concorrentes.

E os debates...ah, os debates...aqueles momentos em que se tem a oportunidade de apresentar com clareza cada projeto, explicar cada plano de governo e estar mais perto dos eleitores. Momentos estes que agora ganham facilmente dos programas de humor, viram piada, ficam entre os vídeos mais acessados e compartilhados por pessoas que querem dar risadas.

É mesmo de muita graça assistir políticos se humilhando, se rebaixando em rede nacional. Esquecendo os motivos que os levaram até ali. Esquecendo os planos e o governo, porque mais importante que vencer, é derrotar os opositores. Mais importante que apresentar os feitos, é apontar os então “não feitos” do outro. É engraçado, não é? Preocupante, mas engraçado. Porque, claro, brasileiro sempre ri para não chorar. Lema de um país sem salvação.

Pode-se perceber claramente e em qualquer lugar, projetos que de nada adiantam. Como que para ter algo a se dizer que foi feito, mas o objetivo é sempre desconhecido. Percebe-se também, a crescente baixaria e um horário eleitoral cada vez mais impróprio, que foge aos preceitos básicos do que se deveria esperar de algo completamente decisivo para a nação.
E diante de uma plena contradição, qualquer um se candidata, e os votos vão cada dia mais para qualquer um. Não se tem rebeldes sem causa, e sim, causa sem rebeldes. E poucos se importam com esse mar de hipocrisia, esse rio de corrupção, um oceano de falsidade, que tomam o lugar das águas.

Falta água. Falta vergonha. Falta comprometimento. Falta luta. Falta educação, saúde e respeito. Falta tudo, menos aquelas boas gargalhadas. Para que carnaval? No Brasil, agora, é horário eleitoral.

Texto escrito pela aluna dominicana Pauline Dahdah Mingati

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Montessori: uma experiência de vida

A Professora Patrícia Beatriz relata que o aluno do Maternal II “A” Luís Eduardo escolheu a bandeja que trabalha "o varrer", neste material a criança tem que abrir o potinho com pompons e espalhá-los pela sala, depois escolher entre a vassoura convencional ou o migalheiro (vassourinha) para direcionar os pompons para dentro de uma delimitação, independente da forma geométrica. Ao final, o aluno recolherá com a pá e guardará.






terça-feira, 30 de setembro de 2014

"Fazer o que se gosta"


"Se você não gosta de seu trabalho, tente fazê-lo bem feito. Seja o melhor na sua área, destaque-se pela precisão" A escolha de uma profissão é o primeiro calvário de todo adolescente. Muitos tios, pais e orientadores vocacionais acabam recomendando "fazer o que se gosta", um conselho confuso e equivocado.

Empresas pagam a profissionais para fazer o que a comunidade acha importante ser feito, não aquilo que os funcionários gostariam de fazer, que normalmente é jogar futebol, ler um livro ou tomar chope na praia. Seria um mundo perfeito se as coisas que queremos fazer coincidissem exatamente com o que a sociedade acha importante ser feito. Mas, aí, quem tiraria o lixo, algo necessário, mas que ninguém quer fazer?

Muitos jovens sonham trabalhar no terceiro setor porque é o que gostariam de fazer. Toda semana recebo jovens que querem trabalhar em minha consultoria num projeto social. "Quero ajudar os outros, não quero participar desse capitalismo selvagem." Nesses casos, peço que deixem comigo os sapatos e as meias e voltem para conversar em uma semana.

É uma arrogância intelectual que se ensina nas universidades brasileiras e um insulto aos sapateiros e aos trabalhadores dizer que eles não ajudam os outros. A maioria das pessoas que ajudam os outros o faz de graça.

As coisas que realmente gosto de fazer, como jogar tênis, velejar e organizar o Prêmio Bem Eficiente, eu faço de graça. O "ócio criativo", o sonho brasileiro de receber um salário para "fazer o que se gosta", somente é alcançado por alguns professores felizardos de filosofia que podem ler o que gostam em tempo integral.

O que seria de nós se ninguém produzisse sapatos e meias, só porque alguns membros da sociedade só querem "fazer o que gostam"? Pediatras e obstetras atendem às 2 da manhã. Médicos e enfermeiras atendem aos sábados e domingos não porque gostam, mas porque isso tem de ser feito.

Empresas, hospitais, entidades beneficentes estão aí para fazer o que é preciso ser feito, aos sábados, domingos e feriados. Eu respeito muito mais os altruístas que fazem aquilo que tem de ser feito do que os egoístas que só querem "fazer o que gostam". Então teremos de trabalhar em algo que odiamos, condenados a uma vida profissional chata e opressiva? Existe um final feliz. A saída para esse dilema é aprender a gostar do que você faz. E isso é mais fácil do que se pensa. Basta fazer seu trabalho com esmero, bem feito. Curta o prazer da excelência, o prazer estético da qualidade e da perfeição.

Aliás, isso não é um conselho simplesmente profissional, é um conselho de vida. Se algo vale a pena ser feito na vida, vale a pena ser bem feito. Viva com esse objetivo. Você poderá não ficar rico, mas será feliz. Provavelmente, nada lhe faltará, porque se paga melhor àqueles que fazem o trabalho bem feito do que àqueles que fazem o mínimo necessário.

Se quiser procurar algo, descubra suas habilidades naturais, que permitirão que realize seu trabalho com distinção e o colocarão à frente dos demais. Muitos profissionais odeiam o que fazem porque não se prepararam adequadamente, não estudaram o suficiente, não sabem fazer aquilo que gostam, e aí odeiam o que fazem mal feito.

Sempre fui um perfeccionista. Fiz muitas coisas chatas na vida, mas sempre fiz questão de fazê-las bem feitas. Sou até criticado por isso, porque demoro demais, vivo brigando com quem é incompetente, reescrevo estes artigos umas quarenta vezes para o desespero de meus editores, sou superexigente comigo e com os outros.

Hoje, percebo que foi esse perfeccionismo que me permitiu sobreviver à chatice da vida, que me fez gostar das coisas chatas que tenho de fazer.

Se você não gosta de seu trabalho, tente fazê-lo bem feito. Seja o melhor em sua área, destaque-se pela precisão. Você será aplaudido, valorizado, procurado, e outras portas se abrirão. Começará a ser até criativo, inventando coisa nova, e isso é um raro prazer.

Faça seu trabalho mal feito e você odiará o que faz, odiando a sua empresa, seu patrão, seus colegas, seu país e a si mesmo.

 Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

"A árvore e a família"

Podemos fazer uma analogia entre a árvore e a família, da seguinte forma:

As raízes são a base moral e precisam ser fortes e profundas, para que as intempéries e vicissitudes da vida não sejam capazes de arrancá-las da terra, ou seja, do propósito da beneficência, a qual todos os seres humanos, a priori, são destinados em sua passagem por esta vida. Manter raízes fortes implica em nutri-las diariamente com valores e virtudes como a disciplina, compaixão, responsabilidade, amizade, trabalho, coragem, perseverança, honestidade, lealdade e fé, para que sustente toda a estrutura da árvore familiar – do tronco até a copa.

O tronco é o corpo familiar, composto por sujeitos individuais, com características particulares e muitas vezes peculiares, como pequenas células, onde cada um tem seu papel, mas que, transformando-se em sujeito coletivo, o tecido, tornam-se uma estrutura maciça, densa, capaz de sustentar e dar forma para a história, os afetos, as experiências, a necessidade de pertencimento e de manter-se para auxiliar a copa, as flores e os frutos.

A copa é a expansão do núcleo familiar para o coletivo social. A brisa criada pelas folhas é acalanto para dias de calor, como ações que fazemos capazes de diminuir a dor, o sofrimento, a solidão e a angústia em outrem, através do cuidado, da generosidade, da amizade e da compaixão. As folhas ainda tem o papel de transformar CO2 em O2, ou seja, a família tem o papel de transformar através de atitudes diárias, a terra em um espaço onde se respire mais educação, generosidade e respeito. Estas mesmas folhas, reciclam-se ao se desprenderem dos galhos, em mudança de estação, e lançarem-se ao solo para beneficiar suas próprias raízes, mas não somente elas, como também de outras árvores em seu entorno, tornando-se adubo orgânico. Este é um papel necessário familiar: reciclar-se para gerar novos produtos morais ou dar mais força aos estabelecidos, para si, para seus amigos, conhecidos, comunidade, cidade e país.

As flores tem a clara intenção de perfumar, gerar pólen e embelezar. Permite a vivência da estética positiva, do belo, do harmonioso, como também a polinização, gerando frutos. O belo, em si, produz saúde, como é sabido por todos, além de qualidade de vida. Algo para questionarmos – estamos produzindo em nossas vivências familiares a virtude do belo ou o vício da feiura? Que qualidade de pólen produzimos? Nossos filhos são constituídos pelas virtudes da justiça, trabalho, compaixão, honestidade? Ou pelo hábito do julgamento, da preguiça, do egoísmo, da arrogância e desonestidade? Afinal, do que é constituído nosso pólen, de nossos filhos e netos?

Os frutos com suas sementes são o legado familiar. Através destes, a família se nutre e gera novos seres, que podem viajar pelo mundo ou permanecer em seu entorno. A verdade é que uma cerejeira sempre produzirá cerejas, jamais sendo capaz de produzir abacate, lima da pérsia ou maçãs. Nossos descendentes são e serão nossos frutos e sementes, espelhos de nossa alma. O cuidado consiste em gerar reflexos positivos, libertos e habitualmente virtuosos!

Podemos pensar, delicadamente, que somos uma majestosa árvore familiar enquanto humanidade, todos filhos de Gaia, a mãe terra!

Autoria: Anne M. Koenig (mãe de Enzo Koenig Velloso – 5º. Ano "A")

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

"Dia da Família": Encontro do Ensino Fundamental 1

Texto escrito pela Irmã Maria Helena Salazar

“Gostaria de servir-me das palavras do Papa Francisco que afirma em uma de suas homilias: a família cristã reza, conserva a fé e vive a alegria.
 

A oração em família é a primeira característica fundamental da vida de uma família cristã. Quero ser realista, perguntando: como se faz no mundo de hoje para se encontrar um tempo para reunir a família em oração? 

Sobretudo, neste mundo agitado, onde é difícil a família encontrar, até mesmo um espaço para o lazer, a refeição juntos, os momentos em família.
 

Mas temos que reconhecer, mais do que nunca que temos necessidade de Deus, de sua misericórdia, de sua presença na família. Precisamos achar os espaços, o tempo para a família.
 

Não se trata de quantidade, mas de qualidade da oração, do lazer, dos encontros. Um Pai Nosso refletido, uma dezena do terço, lembrar uma passagem do Evangelho, um Salmo, etc...
 

A oração fortifica a família. Esta é um santuário de fé que deve ser partilhado através do testemunho de vida, do acolhimento da partilha, da abertura aos outros. A família cristã que reza transmite alegria, alegria de estar juntos, paz e muito amor. Tudo isso vem da harmonia profunda que se conquista todos os dias. Só a oração e a fé em Deus são capazes de criar harmonia nas diferenças, nos conflitos, nas dificuldades.
 

Deus deseja que cada família seja morada acolhedora de bondade, de carinho para as crianças, os idosos, os doentes, para quem vive sozinho e para os necessitados. Gestos, atitudes, coração aberto para os outros, é a oração que toda família deve buscar. É a oração que mais agrada a Deus.”

domingo, 10 de agosto de 2014

Dia dos Pais: Homenagem Poética

Papai,
Sou fruto da sua história
Minha biografia começa com a sua.
Nossa história
vai sendo escrita em gotas.
Carrego na alma,
o orgulho de ser parte de você.
Agradeço-lhe os bons momentos,
seus carinhos,
seus conselhos,
sua segurança,
sua ternura,
sua proteção,
suas brincadeiras,
sua coragem,
seu amor.
Vou me construindo
nesses laços e entrelaços
que serão eternos.
Nesse dia especial,
meu abraço com muito amor e ternura.


Eliana Aparecida Prata

segunda-feira, 26 de maio de 2014

"Escolhendo uma profissão"

Todo jovem tem de tomar pelo menos duas grandes importantes decisões na vida. A escolha da profissão e a do cônjuge. A maioria estuda e namora o futuro cônjuge nos mínimos detalhes, mas escolhe e descarta dezenas de profissões com uma única frase. Muitos passarão mais tempo no emprego do que com o marido, a esposa e a família. Quando chegarem em casa, todos já estarão dormindo.

Como melhorar a escolha da profissão com a mesma dedicação com que se escolhe um cônjuge?
1. Namore também sua profissão. Se seus pais possuem um conhecido que exerça uma profissão, peça permissão para acompanhá-lo por algumas semanas para sentir como é seu dia a dia. Mesmo que tenha de ficar nos corredores, você verá o ambiente, sentirá um pouco a rotina diária. Assista a uma semana de aulas em sua futura faculdade. Comece a explorar as variantes da profissão, descubra as linhas de pensamento, os estilos. Quem são as "feras" dessa área e como são os estilos de vida. Combinam com o seu?

2. Não se apresse. Se você estiver na dúvida quanto à escolha da profissão, tire um ano mochilando pelo mundo afora. É preferível "perder" um ano a perder toda uma vida profissional. A escolha da profissão precisa ser cuidadosa, porque hoje em dia é mais fácil trocar de cônjuge que de profissão. Aos 32 anos você não terá mais disposição para prestar um novo vestibular. Essa pressão da sociedade e dos pais para uma escolha imediata vem do tempo em que a expectativa de vida de um adulto era de somente quarenta anos. Hoje a expectativa média de vida é de 82 anos. Um ano ou dois não farão a mínima diferença.

3. O não por exclusão. Nossa tendência é sempre achar algum defeito numa ideia nova. "Engenheiros sujam as mãos", "contabilidade é para tímidos", "advocacia é para quem fala bem", "finanças e economia são para especuladores". Toda profissão tem seus defeitos. Se você andou escolhendo algumas profissões por exclusão, volte atrás e pense de novo.

4. Explore o cinza. Justamente porque o estereótipo do advogado é aquele que fala bem, existe enorme falta de advogados que sejam bons em matemática. Por isso, advogados tributaristas, os que mexem com números, são muito bem pagos no Brasil.

5. Não confunda interesse com proposta de vida. Todos nós deveríamos ter interesse em história e filosofia. Espero que nos fins de semana vocês leiam esses temas, e não mais um livro técnico. Todo mundo deveria estudar um pouco de economia, psicologia e direito, mas nem todos irão querer estudar essas matérias a vida inteira. O simples interesse não é suficiente para fazer de você um profissional dedicado e totalmente comprometido para o resto da vida. Uma fã do pianista Arthur Moreira Lima disse que daria a vida para tocar como ele. "Pois eu dei a minha vida", respondeu Moreira Lima. Se você está disposto a dar sua vida por história ou filosofia, aí não é um mero interesse, é sem dúvida uma vocação. Portanto, vá em frente. Se você escolher uma profissão no par ou ímpar, lembre-se de que poderá estar tirando a vaga de alguém que tem vocação, a vaga de um futuro Moreira Lima.

Faça um favor à sociedade e àqueles que adorariam estar em seu lugar: não tome a vaga de quem realmente precisa. A sociedade, os excluídos e seus futuros professores agradecerão efusivamente. Portanto, vá com calma. Estude a vida inteira e escolha sua profissão de uma forma profissional. Boa sorte e meus votos de sucesso.

Stephen Kanitz é administrador (www.kanitz.com.br).
Artigo Publicado na Revista Veja,Editora Abril, edição 1781, ano 35, nº 49, 11 de dezembro de 2002, página 20.

Texto enviado pela palestrante e Psicóloga Izildinha Munhoz que participou do Projeto "Semana do Trabalho" com os alunos do Colégio Nossa Senhora das Dores 

sexta-feira, 9 de maio de 2014

"Para você mãe"


Para você mãe,

Um abraço com sabor de flores
Com um toque de algodão doce
Todas as flores e amores
Nesse abraço quero lhe dar.

A alegria de nossas vidas
Depende da sua
Seu olhar ao me abraçar
Brilha mais do que a lua.

O sorriso mais profundo
Que abre o mundo
Acalma meu coração
No ritmo de uma canção
É como uma canção de ninar
A me embalar.

Mãe, você é meu porto seguro
É quem me cobre com o seu manto
É quem me acolhe e me dá amor
É quem cura o meu pranto
É quem ameniza a minha dor.
E você com tanta dedicação
Transforma a vida em um oceano de amor.

Professores e Coordenação pedagógica do EFI escreveram a vinte e uma mãos, a partir da pintura “O abraço” de Romero Brito, para as mães dominicanas.

terça-feira, 6 de maio de 2014

ENTREVISTA com Lusa Almeida Soares Andrade

Foto: Internet
Aos 86 anos, Lusa Almeida Soares Andrade é uma artesã que dedicou toda a vida à arte com cerâmica e barro, mas que não permaneceu presa no tempo e hoje aproveita cada benefício que as novas tecnologias oferecem. E ela tem mesmo muita história para contar. Por isso, na entrevista deste domingo, o Jornal da Manhã traz um pouco sobre a vida dessa mulher que não se entregou às convenções da época e que, muito independente, viajou o país divulgando o artesanato uberabense.
Fundadora da Associação Brasileira de Cerâmica Artística e da Associação de Artesãos e Artistas de Uberaba, Lusa Andrade foi uma das principais responsáveis por difundir Uberaba como sede do conhecimento sobre as mais variadas técnicas ligadas à arte do trabalho com cerâmica e barro pelo Brasil. Como resultado das experiências adquiridas em 20 congressos nacionais realizados na cidade, Lusa publicou, em 1984, o livro “Barracão de Barro - Cerâmicas”, hoje na segunda edição, que é adotado por instituições educacionais do país e também de Portugal.

Filha de Ilídio Dias de Almeida e Alice Costa Almeida, Lusa viveu 54 anos felizes, como ela mesmo diz, ao lado do médico Olavo Soares de Andrade (in memoriam), com quem teve quatro filhos: Ana Cristina, Eduardo, Fernando e Guilherme Almeida Andrade. Hoje, ela também aproveita a companhia dos netos Felipe, Tiago, Diogo e Mariana.

Jornal da Manhã – Como tudo começou para Lusa Almeida Soares Andrade?
Lusa Andrade – Nasci em Uberaba, mais precisamente na fazenda Morro Alto, que ainda faz divisa com Peirópolis, cuja história começou em 1900, quando meu avô a comprou. Na infância, nós íamos aos córregos, onde pegávamos argila colorida para brincar e desde aquele tempo eu já fazia minhas panelinhas e as bonecas de barro. A partir daí nunca mais larguei a argila, estive sempre com as mãos no barro.

JM – Foi a vida no campo que proporcionou este interesse por essa matéria-prima?
Lusa Andrade – Acredito que sim, porque depois fui estudar fora tanto em Uberaba e São Paulo quanto no Rio de Janeiro, mas sempre tive o barro na cabeça, ou melhor, nas mãos [risos], e a vontade de trabalhá-lo.

JM – Nos primeiros anos de sua vida, além do interesse nato pela argila, como foi a infância da senhora?
Lusa Andrade –
Tive apenas um irmão, Galeno Almeida, e como fui estudar fora, aos sete anos de idade, a vida na fazenda foi um tanto curta, pois passava mesmo só as férias. Mesmo assim, foi uma infância muito boa e muito feliz, pois era uma alegria sem fim. Aliás, tenho a impressão de que já nasci sorrindo, porque tive muitas alegrias, mesmo quando vim estudar.

JM – E toda a família saiu da fazenda?
Lusa Andrade – Não, a família toda, não. Mamãe, papai e Galeno continuaram na fazenda. Na verdade, apenas eu vim para estudar. Fiquei interna no Colégio Nossa Senhora das Dores. Eu adorava o internato e sou muito grata às irmãs dominicanas, porque elas sempre me trataram muito bem e também por tudo que aprendi com elas. Talvez por eu não ter tido irmãs, apenas um irmão, as minhas coleguinhas me faziam muito feliz. Tinha muita alegria e, por isso, achava ótimo o colégio. De aprendizado, o mais marcante foi o fato de que as irmãs me deram muita formação. Depois que fui para São Paulo terminar meus estudos, tive outra vivência, porque fui para um colégio com influência inglesa e que, por isso, oferecia outro tipo de educação, mas acredito que as irmãs me ajudaram muito na vida. Em São Paulo, o colégio dava um pouco mais de liberdade.

JM – Como foi passar tanto tempo distante da família?
Lusa Andrade – Vim muito nova para o internato em Uberaba e, por isto, sentia muito a falta de casa e da família, mas a turminha do colégio sabia preencher. Naquele tempo não havia outra maneira, usava-se muito o internato, então não achava que estava jogada lá. Sabia que estava lá porque era preciso estar. Meus pais eram fazendeiros e o que mais poderiam fazer para nos oferecer estudos? O jeito era o internato, pois tínhamos que estudar. Lá no Colégio Nossa Senhora das Dores fiz até a segunda série, pois a terceira e a quarta foram em São Paulo, no Colégio Stafford. Também fiquei como internato, mas lá era misto, ou seja, meninos também estudavam, embora o colégio masculino fosse separado e quase não nos encontrássemos. Além disso, não era como o regime das freiras, tínhamos liberdade para sair aos domingos. Eu ia para a casa das minhas tias, que moravam em São Paulo, tomava chá, ia ao teatro e ao cinema, aproveitava muito. Era um banho de civilização. Lá, fiquei dois anos, me formei no Paulistano e voltei para a fazenda.

JM – E como foi a decisão de continuar os estudos no Rio de Janeiro?
Lusa Andrade – Meu pai achou que já estava na hora de me jogar mais um pouquinho no mundo, me tirando daquele regime fechado das irmãs para que eu ficasse mais independente. Isso foi muito bom e sou muito grata a ele por isto, porque toda a vida sempre fui muito independente. Tive que aprender a viver no mundo como ele realmente era. Depois que terminei os estudos, lá fui para o Instituto Social no Rio de Janeiro fazer o curso superior para Assistente Social, mas não completei, fiquei apenas quase um ano, porque papai faleceu em 1948 e tive que voltar para casa. Em 1950, me casei e fiquei morando em Uberaba.

JM – E como foi que conheceu o Dr. Olavo Soares de Andrade?
Lusa Andrade – Em 1949, houve um congresso médico em Araxá e a mamãe e eu fomos, junto com um primo, o doutor Alfredo Sabino, que iria fazer parte do evento. Nesse período, a turma da faculdade de Belo Horizonte, que estava formando, também foi e de toda a turma acabei escolhendo o Olavo. E em nove meses eu me casei. Conheci-o em setembro daquele ano, em janeiro de 1950 fiquei noiva e me casei em maio, mas tive pouco contato com ele, porque ele vivia em Belo Horizonte e eu em Uberaba. E permanecemos casados por 54 anos maravilhosos, pois ele era corretíssimo. Ele foi um dos primeiros professores da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, pois dava a disciplina de Anatomia. Tivemos quatro filhos, tenho quatro netos, mas ele faleceu em 2004 e então resolvi tomar conta da fazenda Morro Alto.

JM – E onde a arte com o barro entra nessa história toda?
Lusa Andrade – No colégio, as freiras nos ensinavam bordado e a picar papel, tanto que sempre adorei uma tesourinha e um papel, ou seja, sempre fui artesã. Aliás, não sou artista, sou artesã. A diferença entre o artista e o artesão é que aquele “cria”, enquanto o artesão “cria e recria”, ou seja, pode repetir. Portanto, sou artesã. Em 1975, fundei o Barracão de Barro aqui em casa, onde lecionava. Dava aulas de cerâmica e Uberaba todinha passou aqui para aprender sobre vitrificação em cerâmica, entalhe, ou seja, o processo todo, pois havia três fornos. Era um passatempo muito bom, mas no ano passado eu os aposentei, pois agora me dedico mais à fazenda, embora ainda faça cerâmica com minhas amigas uma vez por semana. Paralelamente às aulas de cerâmica, fundei a Associação Brasileira de Cerâmica Artística e realizava congressos nacionais em que vinham artesãos de todo o país para trocar experiências no assunto. No último congresso, em 1990, havia 300 pessoas, do Rio Grande do Sul ao Amazonas.