segunda-feira, 26 de maio de 2014

"Escolhendo uma profissão"

Todo jovem tem de tomar pelo menos duas grandes importantes decisões na vida. A escolha da profissão e a do cônjuge. A maioria estuda e namora o futuro cônjuge nos mínimos detalhes, mas escolhe e descarta dezenas de profissões com uma única frase. Muitos passarão mais tempo no emprego do que com o marido, a esposa e a família. Quando chegarem em casa, todos já estarão dormindo.

Como melhorar a escolha da profissão com a mesma dedicação com que se escolhe um cônjuge?
1. Namore também sua profissão. Se seus pais possuem um conhecido que exerça uma profissão, peça permissão para acompanhá-lo por algumas semanas para sentir como é seu dia a dia. Mesmo que tenha de ficar nos corredores, você verá o ambiente, sentirá um pouco a rotina diária. Assista a uma semana de aulas em sua futura faculdade. Comece a explorar as variantes da profissão, descubra as linhas de pensamento, os estilos. Quem são as "feras" dessa área e como são os estilos de vida. Combinam com o seu?

2. Não se apresse. Se você estiver na dúvida quanto à escolha da profissão, tire um ano mochilando pelo mundo afora. É preferível "perder" um ano a perder toda uma vida profissional. A escolha da profissão precisa ser cuidadosa, porque hoje em dia é mais fácil trocar de cônjuge que de profissão. Aos 32 anos você não terá mais disposição para prestar um novo vestibular. Essa pressão da sociedade e dos pais para uma escolha imediata vem do tempo em que a expectativa de vida de um adulto era de somente quarenta anos. Hoje a expectativa média de vida é de 82 anos. Um ano ou dois não farão a mínima diferença.

3. O não por exclusão. Nossa tendência é sempre achar algum defeito numa ideia nova. "Engenheiros sujam as mãos", "contabilidade é para tímidos", "advocacia é para quem fala bem", "finanças e economia são para especuladores". Toda profissão tem seus defeitos. Se você andou escolhendo algumas profissões por exclusão, volte atrás e pense de novo.

4. Explore o cinza. Justamente porque o estereótipo do advogado é aquele que fala bem, existe enorme falta de advogados que sejam bons em matemática. Por isso, advogados tributaristas, os que mexem com números, são muito bem pagos no Brasil.

5. Não confunda interesse com proposta de vida. Todos nós deveríamos ter interesse em história e filosofia. Espero que nos fins de semana vocês leiam esses temas, e não mais um livro técnico. Todo mundo deveria estudar um pouco de economia, psicologia e direito, mas nem todos irão querer estudar essas matérias a vida inteira. O simples interesse não é suficiente para fazer de você um profissional dedicado e totalmente comprometido para o resto da vida. Uma fã do pianista Arthur Moreira Lima disse que daria a vida para tocar como ele. "Pois eu dei a minha vida", respondeu Moreira Lima. Se você está disposto a dar sua vida por história ou filosofia, aí não é um mero interesse, é sem dúvida uma vocação. Portanto, vá em frente. Se você escolher uma profissão no par ou ímpar, lembre-se de que poderá estar tirando a vaga de alguém que tem vocação, a vaga de um futuro Moreira Lima.

Faça um favor à sociedade e àqueles que adorariam estar em seu lugar: não tome a vaga de quem realmente precisa. A sociedade, os excluídos e seus futuros professores agradecerão efusivamente. Portanto, vá com calma. Estude a vida inteira e escolha sua profissão de uma forma profissional. Boa sorte e meus votos de sucesso.

Stephen Kanitz é administrador (www.kanitz.com.br).
Artigo Publicado na Revista Veja,Editora Abril, edição 1781, ano 35, nº 49, 11 de dezembro de 2002, página 20.

Texto enviado pela palestrante e Psicóloga Izildinha Munhoz que participou do Projeto "Semana do Trabalho" com os alunos do Colégio Nossa Senhora das Dores 

sexta-feira, 9 de maio de 2014

"Para você mãe"


Para você mãe,

Um abraço com sabor de flores
Com um toque de algodão doce
Todas as flores e amores
Nesse abraço quero lhe dar.

A alegria de nossas vidas
Depende da sua
Seu olhar ao me abraçar
Brilha mais do que a lua.

O sorriso mais profundo
Que abre o mundo
Acalma meu coração
No ritmo de uma canção
É como uma canção de ninar
A me embalar.

Mãe, você é meu porto seguro
É quem me cobre com o seu manto
É quem me acolhe e me dá amor
É quem cura o meu pranto
É quem ameniza a minha dor.
E você com tanta dedicação
Transforma a vida em um oceano de amor.

Professores e Coordenação pedagógica do EFI escreveram a vinte e uma mãos, a partir da pintura “O abraço” de Romero Brito, para as mães dominicanas.

terça-feira, 6 de maio de 2014

ENTREVISTA com Lusa Almeida Soares Andrade

Foto: Internet
Aos 86 anos, Lusa Almeida Soares Andrade é uma artesã que dedicou toda a vida à arte com cerâmica e barro, mas que não permaneceu presa no tempo e hoje aproveita cada benefício que as novas tecnologias oferecem. E ela tem mesmo muita história para contar. Por isso, na entrevista deste domingo, o Jornal da Manhã traz um pouco sobre a vida dessa mulher que não se entregou às convenções da época e que, muito independente, viajou o país divulgando o artesanato uberabense.
Fundadora da Associação Brasileira de Cerâmica Artística e da Associação de Artesãos e Artistas de Uberaba, Lusa Andrade foi uma das principais responsáveis por difundir Uberaba como sede do conhecimento sobre as mais variadas técnicas ligadas à arte do trabalho com cerâmica e barro pelo Brasil. Como resultado das experiências adquiridas em 20 congressos nacionais realizados na cidade, Lusa publicou, em 1984, o livro “Barracão de Barro - Cerâmicas”, hoje na segunda edição, que é adotado por instituições educacionais do país e também de Portugal.

Filha de Ilídio Dias de Almeida e Alice Costa Almeida, Lusa viveu 54 anos felizes, como ela mesmo diz, ao lado do médico Olavo Soares de Andrade (in memoriam), com quem teve quatro filhos: Ana Cristina, Eduardo, Fernando e Guilherme Almeida Andrade. Hoje, ela também aproveita a companhia dos netos Felipe, Tiago, Diogo e Mariana.

Jornal da Manhã – Como tudo começou para Lusa Almeida Soares Andrade?
Lusa Andrade – Nasci em Uberaba, mais precisamente na fazenda Morro Alto, que ainda faz divisa com Peirópolis, cuja história começou em 1900, quando meu avô a comprou. Na infância, nós íamos aos córregos, onde pegávamos argila colorida para brincar e desde aquele tempo eu já fazia minhas panelinhas e as bonecas de barro. A partir daí nunca mais larguei a argila, estive sempre com as mãos no barro.

JM – Foi a vida no campo que proporcionou este interesse por essa matéria-prima?
Lusa Andrade – Acredito que sim, porque depois fui estudar fora tanto em Uberaba e São Paulo quanto no Rio de Janeiro, mas sempre tive o barro na cabeça, ou melhor, nas mãos [risos], e a vontade de trabalhá-lo.

JM – Nos primeiros anos de sua vida, além do interesse nato pela argila, como foi a infância da senhora?
Lusa Andrade –
Tive apenas um irmão, Galeno Almeida, e como fui estudar fora, aos sete anos de idade, a vida na fazenda foi um tanto curta, pois passava mesmo só as férias. Mesmo assim, foi uma infância muito boa e muito feliz, pois era uma alegria sem fim. Aliás, tenho a impressão de que já nasci sorrindo, porque tive muitas alegrias, mesmo quando vim estudar.

JM – E toda a família saiu da fazenda?
Lusa Andrade – Não, a família toda, não. Mamãe, papai e Galeno continuaram na fazenda. Na verdade, apenas eu vim para estudar. Fiquei interna no Colégio Nossa Senhora das Dores. Eu adorava o internato e sou muito grata às irmãs dominicanas, porque elas sempre me trataram muito bem e também por tudo que aprendi com elas. Talvez por eu não ter tido irmãs, apenas um irmão, as minhas coleguinhas me faziam muito feliz. Tinha muita alegria e, por isso, achava ótimo o colégio. De aprendizado, o mais marcante foi o fato de que as irmãs me deram muita formação. Depois que fui para São Paulo terminar meus estudos, tive outra vivência, porque fui para um colégio com influência inglesa e que, por isso, oferecia outro tipo de educação, mas acredito que as irmãs me ajudaram muito na vida. Em São Paulo, o colégio dava um pouco mais de liberdade.

JM – Como foi passar tanto tempo distante da família?
Lusa Andrade – Vim muito nova para o internato em Uberaba e, por isto, sentia muito a falta de casa e da família, mas a turminha do colégio sabia preencher. Naquele tempo não havia outra maneira, usava-se muito o internato, então não achava que estava jogada lá. Sabia que estava lá porque era preciso estar. Meus pais eram fazendeiros e o que mais poderiam fazer para nos oferecer estudos? O jeito era o internato, pois tínhamos que estudar. Lá no Colégio Nossa Senhora das Dores fiz até a segunda série, pois a terceira e a quarta foram em São Paulo, no Colégio Stafford. Também fiquei como internato, mas lá era misto, ou seja, meninos também estudavam, embora o colégio masculino fosse separado e quase não nos encontrássemos. Além disso, não era como o regime das freiras, tínhamos liberdade para sair aos domingos. Eu ia para a casa das minhas tias, que moravam em São Paulo, tomava chá, ia ao teatro e ao cinema, aproveitava muito. Era um banho de civilização. Lá, fiquei dois anos, me formei no Paulistano e voltei para a fazenda.

JM – E como foi a decisão de continuar os estudos no Rio de Janeiro?
Lusa Andrade – Meu pai achou que já estava na hora de me jogar mais um pouquinho no mundo, me tirando daquele regime fechado das irmãs para que eu ficasse mais independente. Isso foi muito bom e sou muito grata a ele por isto, porque toda a vida sempre fui muito independente. Tive que aprender a viver no mundo como ele realmente era. Depois que terminei os estudos, lá fui para o Instituto Social no Rio de Janeiro fazer o curso superior para Assistente Social, mas não completei, fiquei apenas quase um ano, porque papai faleceu em 1948 e tive que voltar para casa. Em 1950, me casei e fiquei morando em Uberaba.

JM – E como foi que conheceu o Dr. Olavo Soares de Andrade?
Lusa Andrade – Em 1949, houve um congresso médico em Araxá e a mamãe e eu fomos, junto com um primo, o doutor Alfredo Sabino, que iria fazer parte do evento. Nesse período, a turma da faculdade de Belo Horizonte, que estava formando, também foi e de toda a turma acabei escolhendo o Olavo. E em nove meses eu me casei. Conheci-o em setembro daquele ano, em janeiro de 1950 fiquei noiva e me casei em maio, mas tive pouco contato com ele, porque ele vivia em Belo Horizonte e eu em Uberaba. E permanecemos casados por 54 anos maravilhosos, pois ele era corretíssimo. Ele foi um dos primeiros professores da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, pois dava a disciplina de Anatomia. Tivemos quatro filhos, tenho quatro netos, mas ele faleceu em 2004 e então resolvi tomar conta da fazenda Morro Alto.

JM – E onde a arte com o barro entra nessa história toda?
Lusa Andrade – No colégio, as freiras nos ensinavam bordado e a picar papel, tanto que sempre adorei uma tesourinha e um papel, ou seja, sempre fui artesã. Aliás, não sou artista, sou artesã. A diferença entre o artista e o artesão é que aquele “cria”, enquanto o artesão “cria e recria”, ou seja, pode repetir. Portanto, sou artesã. Em 1975, fundei o Barracão de Barro aqui em casa, onde lecionava. Dava aulas de cerâmica e Uberaba todinha passou aqui para aprender sobre vitrificação em cerâmica, entalhe, ou seja, o processo todo, pois havia três fornos. Era um passatempo muito bom, mas no ano passado eu os aposentei, pois agora me dedico mais à fazenda, embora ainda faça cerâmica com minhas amigas uma vez por semana. Paralelamente às aulas de cerâmica, fundei a Associação Brasileira de Cerâmica Artística e realizava congressos nacionais em que vinham artesãos de todo o país para trocar experiências no assunto. No último congresso, em 1990, havia 300 pessoas, do Rio Grande do Sul ao Amazonas.