terça-feira, 30 de setembro de 2014

"Fazer o que se gosta"


"Se você não gosta de seu trabalho, tente fazê-lo bem feito. Seja o melhor na sua área, destaque-se pela precisão" A escolha de uma profissão é o primeiro calvário de todo adolescente. Muitos tios, pais e orientadores vocacionais acabam recomendando "fazer o que se gosta", um conselho confuso e equivocado.

Empresas pagam a profissionais para fazer o que a comunidade acha importante ser feito, não aquilo que os funcionários gostariam de fazer, que normalmente é jogar futebol, ler um livro ou tomar chope na praia. Seria um mundo perfeito se as coisas que queremos fazer coincidissem exatamente com o que a sociedade acha importante ser feito. Mas, aí, quem tiraria o lixo, algo necessário, mas que ninguém quer fazer?

Muitos jovens sonham trabalhar no terceiro setor porque é o que gostariam de fazer. Toda semana recebo jovens que querem trabalhar em minha consultoria num projeto social. "Quero ajudar os outros, não quero participar desse capitalismo selvagem." Nesses casos, peço que deixem comigo os sapatos e as meias e voltem para conversar em uma semana.

É uma arrogância intelectual que se ensina nas universidades brasileiras e um insulto aos sapateiros e aos trabalhadores dizer que eles não ajudam os outros. A maioria das pessoas que ajudam os outros o faz de graça.

As coisas que realmente gosto de fazer, como jogar tênis, velejar e organizar o Prêmio Bem Eficiente, eu faço de graça. O "ócio criativo", o sonho brasileiro de receber um salário para "fazer o que se gosta", somente é alcançado por alguns professores felizardos de filosofia que podem ler o que gostam em tempo integral.

O que seria de nós se ninguém produzisse sapatos e meias, só porque alguns membros da sociedade só querem "fazer o que gostam"? Pediatras e obstetras atendem às 2 da manhã. Médicos e enfermeiras atendem aos sábados e domingos não porque gostam, mas porque isso tem de ser feito.

Empresas, hospitais, entidades beneficentes estão aí para fazer o que é preciso ser feito, aos sábados, domingos e feriados. Eu respeito muito mais os altruístas que fazem aquilo que tem de ser feito do que os egoístas que só querem "fazer o que gostam". Então teremos de trabalhar em algo que odiamos, condenados a uma vida profissional chata e opressiva? Existe um final feliz. A saída para esse dilema é aprender a gostar do que você faz. E isso é mais fácil do que se pensa. Basta fazer seu trabalho com esmero, bem feito. Curta o prazer da excelência, o prazer estético da qualidade e da perfeição.

Aliás, isso não é um conselho simplesmente profissional, é um conselho de vida. Se algo vale a pena ser feito na vida, vale a pena ser bem feito. Viva com esse objetivo. Você poderá não ficar rico, mas será feliz. Provavelmente, nada lhe faltará, porque se paga melhor àqueles que fazem o trabalho bem feito do que àqueles que fazem o mínimo necessário.

Se quiser procurar algo, descubra suas habilidades naturais, que permitirão que realize seu trabalho com distinção e o colocarão à frente dos demais. Muitos profissionais odeiam o que fazem porque não se prepararam adequadamente, não estudaram o suficiente, não sabem fazer aquilo que gostam, e aí odeiam o que fazem mal feito.

Sempre fui um perfeccionista. Fiz muitas coisas chatas na vida, mas sempre fiz questão de fazê-las bem feitas. Sou até criticado por isso, porque demoro demais, vivo brigando com quem é incompetente, reescrevo estes artigos umas quarenta vezes para o desespero de meus editores, sou superexigente comigo e com os outros.

Hoje, percebo que foi esse perfeccionismo que me permitiu sobreviver à chatice da vida, que me fez gostar das coisas chatas que tenho de fazer.

Se você não gosta de seu trabalho, tente fazê-lo bem feito. Seja o melhor em sua área, destaque-se pela precisão. Você será aplaudido, valorizado, procurado, e outras portas se abrirão. Começará a ser até criativo, inventando coisa nova, e isso é um raro prazer.

Faça seu trabalho mal feito e você odiará o que faz, odiando a sua empresa, seu patrão, seus colegas, seu país e a si mesmo.

 Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

"A árvore e a família"

Podemos fazer uma analogia entre a árvore e a família, da seguinte forma:

As raízes são a base moral e precisam ser fortes e profundas, para que as intempéries e vicissitudes da vida não sejam capazes de arrancá-las da terra, ou seja, do propósito da beneficência, a qual todos os seres humanos, a priori, são destinados em sua passagem por esta vida. Manter raízes fortes implica em nutri-las diariamente com valores e virtudes como a disciplina, compaixão, responsabilidade, amizade, trabalho, coragem, perseverança, honestidade, lealdade e fé, para que sustente toda a estrutura da árvore familiar – do tronco até a copa.

O tronco é o corpo familiar, composto por sujeitos individuais, com características particulares e muitas vezes peculiares, como pequenas células, onde cada um tem seu papel, mas que, transformando-se em sujeito coletivo, o tecido, tornam-se uma estrutura maciça, densa, capaz de sustentar e dar forma para a história, os afetos, as experiências, a necessidade de pertencimento e de manter-se para auxiliar a copa, as flores e os frutos.

A copa é a expansão do núcleo familiar para o coletivo social. A brisa criada pelas folhas é acalanto para dias de calor, como ações que fazemos capazes de diminuir a dor, o sofrimento, a solidão e a angústia em outrem, através do cuidado, da generosidade, da amizade e da compaixão. As folhas ainda tem o papel de transformar CO2 em O2, ou seja, a família tem o papel de transformar através de atitudes diárias, a terra em um espaço onde se respire mais educação, generosidade e respeito. Estas mesmas folhas, reciclam-se ao se desprenderem dos galhos, em mudança de estação, e lançarem-se ao solo para beneficiar suas próprias raízes, mas não somente elas, como também de outras árvores em seu entorno, tornando-se adubo orgânico. Este é um papel necessário familiar: reciclar-se para gerar novos produtos morais ou dar mais força aos estabelecidos, para si, para seus amigos, conhecidos, comunidade, cidade e país.

As flores tem a clara intenção de perfumar, gerar pólen e embelezar. Permite a vivência da estética positiva, do belo, do harmonioso, como também a polinização, gerando frutos. O belo, em si, produz saúde, como é sabido por todos, além de qualidade de vida. Algo para questionarmos – estamos produzindo em nossas vivências familiares a virtude do belo ou o vício da feiura? Que qualidade de pólen produzimos? Nossos filhos são constituídos pelas virtudes da justiça, trabalho, compaixão, honestidade? Ou pelo hábito do julgamento, da preguiça, do egoísmo, da arrogância e desonestidade? Afinal, do que é constituído nosso pólen, de nossos filhos e netos?

Os frutos com suas sementes são o legado familiar. Através destes, a família se nutre e gera novos seres, que podem viajar pelo mundo ou permanecer em seu entorno. A verdade é que uma cerejeira sempre produzirá cerejas, jamais sendo capaz de produzir abacate, lima da pérsia ou maçãs. Nossos descendentes são e serão nossos frutos e sementes, espelhos de nossa alma. O cuidado consiste em gerar reflexos positivos, libertos e habitualmente virtuosos!

Podemos pensar, delicadamente, que somos uma majestosa árvore familiar enquanto humanidade, todos filhos de Gaia, a mãe terra!

Autoria: Anne M. Koenig (mãe de Enzo Koenig Velloso – 5º. Ano "A")