quinta-feira, 2 de maio de 2013

"Branquela"

E a história continua...

Por ali viviam muitos micos. Gostávamos de vê-los pulando os galhos das jabuticabeiras e mangueiras para se alimentarem. Agarradinho ao corpo, muitas vezes, ia o filhotinho. Que gracinha! É um bichinho que parece um macaco, só que pequenininho. A cara é uma careta só, mais clara que o corpo. A cabeça move de um lado para o outro sem parar, os olhos são pequeninos, amendoados e bem espertos, eles se comunicam com um tick tick tick diante do que é estranho, quando sentem sinal de perigo. Os cachorros gostam de persegui-los quando se jogam ao chão para atravessar de um lugar descampado para outro com árvores. Aprendi muito com esses bichinhos. Aprendi a me defender de bichinhos venenosos, no meio do mato, atenta, observando e olhando para todos os lados como os micos, medrosos e corajosos, determinados sempre.

E no tempo das mangas, que sonho era o quintal do vizinho. Manga ribeira, sabina, espada (comprida e saborosa) pequeninas, grandes, no alto ou bem baixinhas, enfeitavam o pomar como vagalumes na noite escura. Não gostava muito das comuns, mas a maçã! Hum, era só água na boca e o olhar nas alturas, buscando as que estavam quase maduras. Uma manga derrubava a outra, aquela madurinha, éramos bons na pontaria. Muitas vezes derrubavam aquela apetitosa sim, mas muitas vezes derrubavam as outras, cai aquela penca de mangas verdes, que e a boca enchia de água, que sabor! Ou era a fome de manga, sei lá. As verdes eram comidas com sal e pimenta do reino, doce azedo que apertava as amígdalas.

Deus cuida das crianças, já disse antes que a gente entrava no quintal do vizinho para pegar mangas, o pé era muito alto, a minha prima, a Gilvânia, subiu até lá nas grimpas para pegar uma manga madurinha. Não gostávamos quando a manga cai e amassava, o sabor muda, sabia, éramos seletivas. Você sabe que os galhos das mangueiras não são resistentes, principalmente em época de chuva, isso tudo a gente aprendia experimentando. Ela estava quase, quase alcançando aquela manga e...crenhen...ploft! O galho se partiu e ela veio despencando junto com a manga, segura aqui ali acolá e Creeeccsshpum! Caiu como a manga madura amassada no chão. Ficamos, eu, minhas duas irmãs, Elaine e Elciana, e a irmã dela, Gilmarina, paralisadas, olhando-a no chão. Morreu? E agora? Que nada se levantou e quem pegou a minha manga? Não contamos nada pra vovó. Ficamos com medo de ela ficar muito brava porque ela era muitíssimo brava. Não adiantou, no outro dia a Gilvânia teve que explicar tudinho, tintim por tintim, porque estava toda roxa e a vovó exigia explicações daquilo, dizendo que menina que tinha o diacho no couro. Quem criava as minhas primas depois da morte da mãe era a vovó, porque meu tio foi morar lá.





Por Eliana Prata - Coordenadora do Ensino Fundamental 1 CNSD
[Esta crônica faz parte de um livro que ela está escrevendo]

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