terça-feira, 26 de novembro de 2013

"Lua"

Você já ficou no meio da noite escura, num espaço sem energia? Já teve a oportunidade, rara hoje, de observar a lua. Pálida, fria, parece nos acompanhar quando caminhamos devagar ou rapidamente. Ela nos segue com os olhos sempre atenta. Chegou! Veio do céu para nos alegrar. Pequenina ainda, mas sorridente, com aqueles olhos esverdeados, olhando-nos com aquela profunda gratuidade. De mansinho, chegava para acariciar e os olhos, sorriso puro. Ficou sendo Lua.

Lua! Lua! Lua! Atendia sempre amável a cada um. Gostava do nome que aquele garotinho danado lhe dera. Aprendeu a andar atrás do papai, quando ia cortar a cana, ficava deitada do lado, esperando pacientemente, era companheira e solidária com a solidão dele. E foi crescendo dando e recebendo amor e atenção. Na ternura, brincava e brigava quando tentavam tirar-lhe a comida. Adorava correr atrás das vacas e cavalos, divertia-se e treinava sua voz.

Quando um de nós deitava no chão, era festa. Lá vinha ela acariciando, mordendo devagar naquela brincadeira pueril.

Um dia desses, quando apareceu um sapo, Lua na idade infantil, sem muita esperteza viu pulando um sapo, achou de morder-lhe o bumbum. O sapo nada satisfeito espirrou-lhe um líquido esbranquiçado. Então, ela ficou brava e mordeu-lhe novamente. E nessa brincadeira, ficou com muita sede. E começou a tomar água sem parar. A barriga pequena foi inchando e pesava uma tonelada, foi retendo o líquido, não fazia xixi. Ficou com falta de ar, já andava alguns passos e parava, tamanho era o peso do barrigão. O fôlego lhe faltava.

Carreguei por duas vezes, era muito pesada, apesar do tamanho. Era muita sede. Só bebia água sem parar. Tudo estava represado naquele barrigão. O médico até tentou ajudá-la, mas nada fazia efeito. Olhava-nos pedindo socorro. Custava-lhe os passos.

Uma hora até se despediu, encostou-nos, olhou-nos e saiu com aquela terrível falta de ar. Deu cinco passos e parou, olhou tudo ao redor, toda a natureza, agora verde, muito verde, por causa das chuvas. Andou mais cinco passos e deitou-se na grama. Grunhiu, era dor tanta, o companheiro veio lhe cheirar, sabendo a hora, grunhiu de esticou o rabo numa força tremenda, querendo jogar fora todo aquele peso, arregalou os olhos e esticou muito as orelhas. Lágrimas rolaram, ficamos sufocados. Meu sobrinho até pedia-lhe: Lua, vai, você consegue, você é forte e chorava. Um último suspiro, de alívio agora.

Assim Lua voltou ao céu dos cachorros para continuar nos olhando com profunda gratuidade enquanto caminhamos.


 

Por Eliana Prata - Coordenadora do Ensino Fundamental 1 CNSD

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